Por José Renato Schmidt de Carvalho
O que é a dendrocronologia?
Dendrocronologia (Do gregro: dendron, “madeira”; cronos, “tempo” e -logia, “estudo”) é um dos tópicos de estudo da dendrologia (estudo da madeira) especializado em analisar o desenvolvimento das árvores através dos seus anéis de crescimento (2011, João Coelho). Em outras palavras, permite estabelecer relações entre árvores, ambiente e tempo.
O que são anéis de crescimento?
A medida em que o tronco cresce em largura (espessura), são formados anéis de crescimento no interior da árvore pela sobreposição das camadas lenhosas. São chamados de ‘anéis’ pelo seu formato relativamente circular e concêntrico ao redor da medula.
Esse crescimento do lenho ocorre em função das condições locais. As camadas mais externas (ainda em formação) apresentam variações de forma características, pois estão à mercê dos fatores ambientais atuantes no momento. Conforme são sobrepostas pelas camadas futuras, essas variações são “registradas” no interior da madeira, normalmente por diferenças de tamanho e coloração entre as camadas.
Esses fatores ambientais podem ser tanto bióticos quanto abióticos como: competição, luminosidade, nutrição, queimadas, etc. Porém, o fator mais limitante costuma ser também o mais influenciador. Em geral associamos as oscilações do clima (e a disponibilidade de água conforme esse) com a variação da forma apresentada pelos anéis.
O que torna o estudo dos anéis de crescimento possível é a periodicidade dos fatores ambientais e, por consequência, seus efeitos na madeira. Apesar de depender da espécie, é tido que o período de crescimento acelerado forma uma seção na madeira mais clara, alongada e menos densa, que denominamos de lenho inicial, em contrapartida o período de crescimento menos acelerado gera uma faixa escura, densa e curta, denominada lenho tardio.
Além disso, porque as estações do clima se repetem ciclicamente a cada ano, um anel também costuma representar o período de um ano, de forma que o número total de anéis é a idade da árvore. Não só isso, quaisquer anomalias ambientais que afetem a árvore permanecerão marcadas no respectivo anel (ano) quando ocorreram.
Vale ressaltar que os efeitos variam de acordo com a espécie. Por exemplo, o conceito de sensibilidade é o quão suscetível os lenhos se apresentam às irregularidades ambientais. Árvores mais sensíveis, então, expressarão maior variação no formato de seus anéis conforme a maior irregularidade do ambiente. Uma árvore complacente, em oposição, poderá apresentar um lenho mais homogêneo na mesma situação.
Método de Medição
Existem duas formas de ter acesso aos anéis de crescimento: a amostragem destrutiva consiste em extrair um disco de madeira após a derrubada da árvore, permitindo uma melhor visualização do plano transversal do tronco com um todo, mas causando a morte do indivíduo. Para evitar esse fim, desenvolveu-se a sonda, que pela perfuração e extração de um pequeno cilindro de madeira, possibilita uma amostragem não destrutiva.
Figura 1, produto final da amostragem por sonda de Tectona grandis. Os anéis de crescimento estão indicados em azul. Observa-se no exemplo que somente uma pequena seção foi extraída e a amostra coletada não percorreu a medula da árvore.
A desvantagem da sonda é o fato de que os anéis de crescimento não são uniformes ou perfeitamente concêntricos, o que torna os cálculos baseados somente nessa pequena seção potencialmente tendenciosos; cabe ao engenheiro florestal circundar essas desvantagens no método a fim de minimizar os erros.
Usos da dendrocronologia
De imediato, a dendrocronologia pode ser uma ferramenta útil à silvicultura, quando se quer saber a idade de cultivos sem registro. Além disso, a fim de determinar o melhor tipo de manejo, é necessário avaliar o crescimento das árvores ao longo do tempo, informações tais que a dendrocronologia pode fornecer com agilidade.
A técnica da datação cruzada possibilita a comparação das oscilações entre diferentes árvores de diferentes períodos, pois árvores sob a influência de um mesmo fator limitante, que varie de intensidade ao longo dos anos, devem apresentar sincronismo na variação da largura dos anéis de crescimento (2018, Schons et alli). Isso pode ser uma ferramenta útil para avaliar a competição interna dentro de um mesmo cultivo, ou até mesmo montar o histórico das variações climáticas ao longo do tempo com peças de madeiras que tem o seu interior conservado (ferramenta útil à arqueologia).
No âmbito ambiental, a dendrocronologia permite analisar os períodos de oscilações climáticas registrados na madeira de árvores e compará-los com os registros históricos da região para avaliações de mudanças climáticas.
Referências/leitura recomendada:
2011, João de Vasconcellos Coelho, “Dendrocronologia: Método Matemático para Determinação da Idade das Árvores”. Disponível em: https://docplayer.com.br/43941013-Dendrocronologia-metodo-matematico-para-determinacao-da-idade-das-arvores.html
2018, Schons et alli, “Dendrocronologia: Princípios e Aplicações”. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/337447185_DENDROCRONOLOGIA_PRINCIPIOS_E_APLICACOES_DENDROCHRONOLOGY_PRINCIPLES_AND_APPLICATIONS
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